27 de novembro de 2010

Um tempo...


As luzes luzem...
O brilho de encanto
em cada canto
anuncia que é Natal
As luzes luzem
e na memória
a infância diz
que havia felicidade
que a neve ia cair
que Papai Noel e suas renas iam vir...
Os olhos da criança em mim
Revivem...
As luzes luzem
e os corações fazem uma promessa
ao ano que virá,
novo
novamente intenso
novamente promessas
Remessas de votos
à própria alma:
serei assim,
serei melhor,
farei de mim
o que desejo sim...
Sonho sem fim...
As luzes luzem
e com elas
marejam lágrimas cristalinas
em recordações natalinas
e risos soltos
da bagunça boa
da expectativa ímpar
de ver Jesus nascer de novo...
A roupa nova
A alegria
Tudo podia, tudo podia...
A árvore e seus enfeites eram contos de fadas
Diante de nós...
Reluziam e recebiam
nossos desejos mais queridos
nos corações grandiosamente infantis...
Há luzes por toda parte
e de certa forma
elas vão acendendo a esperança em mim...
Ah... o ano vindouro...
vou pedir ao papai do céu...
vou pedir sim...
e serei melhor pra Ele
e serei melhor pra mim...

20 de novembro de 2010

São seres...


O que eu gosto nas palavras
É que elas estão disponíveis
Abertas
Oferecem-se aos meus sentimentos
Tão doadoras,
Tão absolutas...
Deixam que eu as escolha
Ao meu prazer
Ou a minha tristeza...
Palavras lavram o vasto território
Da alma da gente...
Aram
Traduzem o que nada mais eu posso...
Palavras são seres vivos, porque têm coração, olhos e ouvidos...

Mãe


Impecável ser,
prontidão em ter
o coração nas mãos...
Entre humana e santa
o teu colo encanta
Bálsamo ao cansaço,
basta que existas...
Um olhar que cura,
o tempo perdura
quando me abençoas...
traz a vida em si
em tudo o que toca
teus pedidos evocam
anjos ao redor...
Vejo tuas asas
postas sempre abertas,
aura protetora,
Fé tão redentora...
Vejo-a etérea,
pleno ser dos céus...
Quase inatingível
por defeitos meus...
Impossível
que não sejas eterna,
lanterna presente
velando minhas ausências de mim mesma,
em minha pequenez...
E és tão sublime,
que é imperdoável meu crime
de não ser aquela
que sonhaste que eu fosse...

Retorno?


A partir daquele dia resolveu andar sempre de ré, tentando reparar erros ou finais não tão felizes... Engatou a ré e deixou-se ir... ia revendo cenas, expectativas, pessoas. Deu-se conta de seus planos tontos, pôs a mão em sua consciência passada, acordou-se pra novas propostas e ia seguindo-voltando.
Cada coisa tinha feito de esquisita! Cada decepção tão doída! Cada riso abafado... mas também viu lágrimas de alegria, conquistas boas, nem estavam ainda mofadas pelo tempo (tempo não mofa lembrança boa...); olhou as felicidades conquistadas e conseguiu ver-se não tão pouco quanto achava... teve ganhos, havia sim lucros em seus sonhos...mas nem era materialista, deve ter deixado os lucros nalgum canto de seu enorme coração pueril...esses eram os maiores ganhos...
Foi indo, cada desengano! Cada ato impensado! Cada precipitação! Cada sofrimento em virtude dessas pequenas-grandes-incomensuráveis atitudes!
E ia refazendo, já sabia o que havia sido, portanto, mexia aqui e ali em suas posturas, pra que os resultados fossem diferentes...
Resolveu, então, engatar outra marcha e voltar ao ponto de onde partira, ver o que sucedia depois de suas modificações...
Susto: na volta, via-se uma pessoa infeliz, reprimida, forjada, sufocada, sem chances de crescer...aquela em que ela mexera, ela mesma, não mais era ela. Não mais havia espontaneidade nos gestos e nada aprendera no fim...morreu em vida, nem tinha memórias a recordar.
Súbito pensou: e agora? Quem encontraria quando chegasse ao lugar de onde saíra?
Não se podem podar os equívocos...eles são a margem do rio que nos torna o que somos.

11 de novembro de 2010

Labirinto


Nem começo, nem meio, nem fim:
Entre os meios,
permeios
Esteios
Nem belos
Nem feios
Magnificamente alheios
Assim...
Nem altos, nem baixos, nem medianos
Nem contraltos, nem sopranos
Nem barítonos, nem graves ou agudos
Apenas sonoros...
Canoros
Poros
Nem sim, nem não, nem talvez
Limpidez
Fluidez
Maciez
Harmônicos
Sinfônicos
Eufônicos
Atônitos
Lúdicos, pudicos
Ditos e não-ditos
Benditos e malditos
Somos
isso
Sanos
somos
insanos
Tudo e nada
Plenos e planos
Perpétuos e doces
Nos buscamos...

10 de novembro de 2010

É arte...



Contemplar-te
é êxtase já antecipado,
por conhecer a sensação
cada vez mais aguda
que cultivamos
no arar dessa insanidade...
Só há essa verdade
que cala todo outro malefício
e extermina o que seja sacrifício...
Contemplar-te
é já unir-me ao abstrato,
indefinível tato,
necessitado ato,
feito respirar
no arfar
de pressentir
o que há de vir,
refletido em toda parte
a que nos subjugamos,
quando contemplamos
o que nos tornamos
nessa tão nossa
íntima arte...

Devaneios


Sonho a gente troca,
tenta e reinventa...
Tropa de ilusões
tece aos turbilhões,
carregando as veias
de velhas motivações...
Sonho a gente sorve,
lambe e delicia
Vai na fantasia
e volta na instância
do que não se pode
e de novo se recria...
Doam-se desejos
aos outros apelos:
brotos de esperança,
fortes na lembrança
de um dia vê-los
não mais utopias...

Enlaçados


Sua voz é melodia,
serenata antiga de trovadores
E eu me envolvo
E bailo...
Leve nesse cheiro tão conhecido
O aroma do amor querido
buscado, perdido e achado
E bailo...
Seus contornos são minhas vertentes
Sinto-os sob meus dedos
silentes
Percorro sua estrada
Sempre enamorada
E bailo...
Cavaleiro indomável em si
Cavalheiro diante de mim
Sedução de nós dois
Nós em nós dois
Atadamente
Eternamente
Bailo...

9 de novembro de 2010

Ousadia...



Volta e meia o desfile começa,
vaporosos pensamentos
a tentar minha platéia...
Criam-se gigantescos sonhos!
Surgem fulgurantes seres:
meus quereres, meus quereres...
Na passarela, de saltos indecifráveis
bailam intermináveis:
crenças
medos
desejos
coragens...
Vestidos a rigor,
iluminados pelo meu descuido
em holofotes extasiados: meus olhos embevecidos...
Amarrotados sentidos
Escondidos
Pretendidos
Elegidos...
Olhos olham admirados
Alienados
Alimentados pela fantasia:
Sim, eu queria
Sim, eu podia
Sim, eu devia...
E o desfile termina,
saciou-se a menina, no etéreo...
Passarela vazia,
aplaudo o que ainda posso criar
Na mente somente
Ensaio
pra um dia,
quem sabe
fazer a estréia...

3 de novembro de 2010

Só siso


E viu que tinha uma ruga no canto do olho... teimosa ruga, vinda de onde, enfim? 
Olhou mais perto: era mesmo ruga, mas... assim, de perto, eram muitas, muitas... indignou-se: de onde saíra aquilo??? Como pôde não ter visto, sempre vira tudo!!!
E mais perto mexeu a boca, como se num largo sorriso e elas se aprofundaram, olhando pra ela, como se dissessem: cá estamos, todas, todas nós. Na curva de seu sorriso, no canto dos olhos, ao longo da testa... e quanto mais alargava a boca, mais surgiam... e ela as via todas, risonhas e bailantes... Riu-se com gosto diante daquilo, e elas, as rugas, riam juntas... felizes e comemorativas... foi-se lembrando de momentos em que nem pensava que um dia as teria, e ria, e ria.. e elas riam junto com ela...
Parou séria ao espelho... elas sumiam com leveza, mas deixavam sinais de sua presença... achou-se bela com elas... e riu.. e as recebeu de volta... Lembrou-se das alegrias e riu... com as amigas pés-de-galinha...
De repente, percebeu a idade avançando... assombrou-se, assustou-se, pensou em suas amarguras e desilusões... chorou, os olhos fecharam-se, as lágrimas rolaram e as rugas não podiam assim, no choro, ser vistas...
Elas sinalizavam que tinha sido tão feliz.. que tinha vivido coisas belas... por isso riam-se com ela... e sumiam por trás daquela torrente lacrimosa, que só lhe punha angústia no peito... Rugas amigas... rir e rugas...Que bom tê-las, que bom vivê-las!

1 de novembro de 2010

Asa


Pegou o vaso mais belo e a terra mais fértil. Encheu-o assim, como uma menina enche a boneca de mimos, de enfeites. Jogou bem ao centro única semente de girassol. Levou o vaso ao muro no fundo do seu quintal azul, colocou-o ao pé de suas virtudes e esperou brotar.
Cuidava da terra, aguava, afofava, esperava. Limpava ervas daninhas, menina boazinha, sozinha... Esperou o tempo. O girassol não vinha. Esperou o tempo e o girassol não vinha...
O tempo passou lento. A menina passou o tempo. Cuidou do vento. Cresceu mais que o vaso. Esqueceu a planta que foi plantada e que não saía. Só a menina crescia só crescendo.
Um dia, brotou ali uma lagarta verde. Uma lagarta verde, na terra marrom no vaso cinzento e mofado. E a lagarta verde virou borboleta, com girassóis desenhados nas asas. Mas a menina não viu. Já não era mais menina...
A borboleta voou, até um quintal de girassóis...

Arte minha...


Artesã da vida
manufaturando desejos
em ensejos benfazejos...
Enlevos...
Artesã da ilusão
no tear sobejo
seivas, beijos...
Artesã desse enlace
em sua face
face ao laço forte
aço, arte em corte
recorte...
Sonhar-te
Desejar-te
Esperar-te
Artesã do insano amar-te...
Buscar-te
Ganhar-te
Artefato bélico
projetar-te
artesã de ti
ao léu, sem véu
a mim
finar-te...

Paisagem...


Estar à margem,
só se for de curso d’água
Vendo-a fluir pra onde tem de ir
Fluindo certeira
Abrindo a clareira do que há de ser...
Ando é à margem de mim
E me vejo partir
Sem ser rio
Sem ser lago
Sem ser mar...
Jogo às vezes as redes
E não me alcanço
À margem estou de mim
À margem do que fui
Do que achei que seria
À margem ficam resíduos
Vestígios do que um dia ali se passou...
À margem param os densos pedaços lentos
Meus pedaços mais intensos
estão à margem de mim...
E olho-os seguirem assim
Sem saber onde é o fim...
Anoitece à margem
E não há lanternas
nem vagalumes
tentando mostrar a aurora...
À margem é o tanto faz
Apenas restos do que foi um dia o todo:
Risos fáceis
Esperanças
Sonhos loucos
Trajetórias impossíveis
Utopias sensíveis
Plausíveis...
Estão à margem comigo,
Vendo indiferentemente os cacos
Sem esboçar desejo de guardá-los...
Sempre gostei das margens
onde vislumbrava águas cristalinas
trilhando purpurinas ao sol...
Hoje estou à margem
E não vejo sequer o outro lado
e não sei
em que outra margem chegarei,
antes que tudo se alague,
antes que eu esteja definitivamente no mangue...