26 de janeiro de 2015




Correu até a margem de si mesma e olhou em torno... não havia limite... margem e limite não são a mesma coisa... Na margem de si, o ilimitado poder da coragem e da observação. Ainda não... ainda não... escorou-se nas esquinas de seus ombros pesados e respirou, analisando o que fazer... nada. Então... gritou. E aprendeu que é estando no limite de sua margem que a esperança grita de volta: Espera! Espera! Espera!

Ecos batem asas e levantam voos por toda parte... e partem e lhe parte o coração imaginar-se fraca. Agarrou-se ao eco, e partiu de volta. Dentro de si, havia ainda inúmeras margens a serem exploradas e ecos a esvoaçarem suas asas plenas de alma em crescimento. Definitivamente, nada há de definitivo na margem, e o limite é, tão somente, o impulso para ir além... e voltar-se a si é ir além... muito além. É sempre no caminho de volta que a bagagem vem mais completa...

11 de abril de 2014



MICHÊ...

É uma trama esse drama
tecendo teias, arranhas...
Vis ações... vês?
Não... dos cegos és o pior...
Nada de barato o que fazes
Nas fases caras, coroas solitárias
Claras más intenções
embaixo do obscuro tapete
em que lavas e levas as mãos...
Paradoxo da bondade:
ladrão...
Dás porque queres roubar,
tens pouca bagagem
E muito peso...
Consciência insana
buscas a dama,
gentil, servil, réptil...
Camaleão perfeito,
tiras e devolves em dobro as dores no peito
dos sonhos desfeitos
Quem te conhece
não te compra...

8 de abril de 2014



Prego na testa,
batido a martelo,
fura profundo,
abre a razão!
Atinge a visão, desvenda a realidade...
sangra, escorre feito lágrima
e à lágrima se mistura
cria um rio de dor no peito,
abrindo diques,
transbordando as comportas,
represando a esperança...
Ela se esvai, verde folha perdida,
atravessa rápido
em busca da margem...
Tinge-se de cinza,
nuvem encobrindo as possibilidades...
Dor que já se sabe,
sabe-se que passa, ainda que não se esqueça,
disfarça...
Prego na testa
é sentença julgada...
No centro de tudo,
caminho pro nada...









Desconecto-me
desconexo...
A realidade não é virtual???
Deleto-me do site obscuro...
Haverá outros links por trás dessa teia social???
Rede-pesca sazonal dos descuidados...
Formato-me e desinformo-me
atendendo aos padrões.
Num clique sou outra:
evite navegar sem ativar o antivírus...

29 de março de 2014




O tudo não é nada
Enquanto o pouco não for muito...
Porque tudo é sempre pouco
Pra quem nada é sempre muito...
E se o raso é o profundo
Da superfície do quase
É preciso ir pro fundo
Para não se estar à margem...

Chegou à beira de seu rio e parou. Despiu-se das roupas dos seus mais vários incômodos, largou-as na borda  e mergulhou. Sentiu as águas frias de suas desistências afogando suas possibilidades mais febris. Afundou-se ainda mais, era preciso ir mais internamente naquele mar de “e se, e se, e se” que cultivara por tanto tempo... nadava lento... boiara a vida inteira, agora, agora era hora... a cada bolha de ar que soltava tomando fôlego pra seguir no fundo de seu rio, mais aquecida ia ficando a água que lavava seus medos, desbotava-os, invalidava-os, liquidava-os... e no escuro profundo de si, viu a luz no final do túnel...


Máscara  virtual

Posta... pedaço... parte...
Posta mensagens...
Só um pedaço inexistente do que se queria ter...
Posta mensagens...
Uma parte que eu sei muito bem reconhecer
Face da mentira
Engano
Ego
Face, farsa, face a face
Nada...
Coragem covarde
Posta
Pedaço do que não se é
Parte em busca
Caça curta
Compartilha usa
Medusa medo é
Coragem covarde
Ego mentira
A verdade é diferente do que você quer
Prega uma farsa
Teia arrasta
Areias movediças
Artista, atiça
E fala de fé...
Sabe se arroga
Julga e mente
Lança sementes
Arrota o que não é...
Segue curtindo,
Seguindo
Pregando
Mentindo
Arranhando
Ceifando ilusões...
Não muda...
Não muda...
Eu mudo – emudecida
Olhando a farsa...
Não faço parte
Da sua posta
Liberta do mal,

Amém!

20 de março de 2014






Despedir-se é sensação de orfandade,
Sem “morte morrida” de verdade...
Orfandade que se entristece pela ida (vácuo!)
Que se extasia pela ida (celebração!)...
porque há idas não definitivas no coração da gente,
idas de jornadas eleitas...
Quem vai deixa rastros de leveza
se foi bom, e fraterno, e nobre, e diferente num mundo de diferenças...
há os que marcam por serem simples e gratuitamente humanos
humanitários,
há quem vê enxergando (são tão raros!)
... e nos caminhos que fazem deixam órfãos pelos caminhos,
órfãos de sensações protetoras, órfãos de sensações empáticas...
Vão-se e deixam-se...
E nem é preciso ter feito uso de muitas palavras para que marquem,
Nobreza não é feita de palavras: olhar, mão, compreensão...
Segue a vida em seus paradoxais (des)encontros:
Não perdemos, se aprendemos com os que se vão,
ganhamos certezas, cumplicidades e ausências...
aprender que poucos são realmente o que são...
Há de haver anjos bons em toda parte
(aprendi isso com as orfandades colhidas nos caminhos...)
E aos bons anjos que alçam vôos maiores,
Vida leve, merecimento, alam-se em novas e nobres missões!
Deixam lições a quem teve a boa sorte em vê-los (e enxergá-los)...
É bom ser órfão nessa situação,
É ser privilegiado ( e poucos o são)
com encontros que valem a pena
E sinalizam que Deus está no comando,
enviando anjos e suportes
a quem chega e a quem vai trilhar outros caminhos...
Luzes do Bem não se apagam,
Voam e inundam,
Porque precisam luzir...
Despedir-se é entender
que às vezes somos nós que vamos, às vezes somos os que ficamos...
órfãos somos,
quando amamos...

19 de março de 2014



Plantei esperanças em meus solos etéreos
têm nascido trevos de quatro folhas
verdinhos,
saltitantes...
Não são vistos a olhos nus,
apenas se mostram aos olhos da alma,
frutificam no cotidiano das ilusões que insisto em não perder...
e não os colho,
apenas rego:
ora com lágrimas sentidas,
ora com lágrimas queridas...
Não caminho por cima deles,
deixo-os sobre mim...
Eles têm sóis eternos, cujos raios iluminam minhas querências,
douram-me,
aquecem...
raios que penetram as frestas entre as sombras que também me habitam...
Os trevos me dissolvem as trevas,
trazem infinitos pelas frestas,
acalmam, ainda que etéreos,
são o que tenho de mais sólido...
o solo dentro do qual brotam eternos trevos
de quatro verdes folhas...


14 de março de 2014




Da primeira vez foi só um pedacinho, ínfimo, quase nem doeu... foi susto, relevou... acontece, pensou...

Da segunda vez, abriu um corte, sangrou... isso sara, relevou...

E assim seguiu, até que um dia, não tinha mais onde rasgar, era inteira exposta, fraturas de coisas irrelevantes... Nada nela estava no lugar... explosão de troços desconjuntados, culpados e cacos mal colados...

Tentou juntar-se, remendar-se... não dava mais... nada se encaixava em parte alguma... perdeu-se de tanto relevar...

Não foi a gota que faltava... foi a primeira gota que passou relevada...






E foi subindo a rua, subindo, tentando nem olhar para trás, medo de voltar ao ponto de partida... subia incessante, quase incansável, mas dentro algo não subia com ela... a cada passo, ia e algo ficava... e misturava bagagens, levezas e pesos... à medida que avançava, a cabeça pesava de memórias inteiras, latentes, dormentes...
Subia determinada, subia para vencer-se a si, ia, ia... se doía, dava logo um jeito de deixar pelo caminho o que mais lhe pesava... largava mais um obstáculo no avanço que mirava... um erro aqui, uma má escolha ali, uma dor acolá... fora, fora, fora... que ficassem fora das memórias que elegia carregar agora...
Subia intensa, buscando olhar além, porém... sabia que o que a empurrava rua acima era a mesma força que a sacudia a olhar para baixo e voltar... a rua longa, tinha exata metragem do tempo de vida que ela tinha... subia, ia... sabia... avante, adiante... soltando pedaços inertes de lembranças débeis atrás de si, agarrando-se intensa às lembranças boas que sustentavam seus passos... firmes e lentos, fortes e fracos, novos e gastos, novos e tão velhos e novos e velhos...
Quando chegou ao destino mirado, percebeu que havia mais... o fim era só o começo... era preciso continuar... a subida não mais era tão íngreme, mas era íngreme o suficiente para não ser mais como era a outra que subira até aquele instante... e.... antes de avançar incessante, incansável... o inevitável: virou-se para o que deixara para trás... jogara fora enquanto subia, o que enfim fizera ou restara, restaria? Virou-se lenta, lenta, isenta, isenta, lenta... e vislumbrou-se! A perder de vista, a rua pela qual viera, escura pelas lembranças e feridas, colorida estava, florida era, ela plantara cores nas dores dos amores perdidos e nas tentativas vãs, nos afãs dos amanhãs que não vieram como eram... se aquilo fosse sonho, já valera...

Retomou sua subida... refeita, quase embebida em si... surpresa sem ferida... plantara flores e plantaria vida em sua vida a cada novo passo da subida erguida... agora entendia, o que ficava e o que viria, o que deixava, sangrava e floria...