21 de janeiro de 2012

  

Então percebi que era tão grande que nem cabia no Universo,
e tão pequeno
que sequer preenchia
o que eu mais queria...
porque tinha a dimensão da alma de quem o sentia
mas não a extensão
do coração para o qual se destinava...







Aprisionei esse silêncio numa gaiola
para impedir que ele continuasse dizendo
tudo o que eu não mais queria ouvir...
preso ele me olhava
atirando-me lembranças gastas
que eu guardava em meu sagrado...
Nem as sabia tão velhas,
cheias de mofos e mentiras...
eu as conservava tão bem ali...
Vistas da gaiola
eram velhas e feias...
e sob a ótica da minha liberdade
eu as enxergava azuis...
As grades dividiam cada emoção em várias partes
e delas saía sangue e saudade...
eu nunca as vira assim
sentada junto à grade que me separava de mim...
Contava ao silêncio minhas histórias
alto
para ver se ele finalmente se calava e me ouvia primeiro...
ecos do nada ressoavam por todo canto
e o encanto de que eu tanto cuidava
era cinza
era pó
esvaía-se
nas dobras do tempo que escorria pelo relógio da ausência...
Eu me agarrava ao infinito ínfimo da crença,
e o silêncio ria enaltecido
de tudo o que eu fui
e não deveria ter sido...
Adornei a gaiola com minhas quimeras,
primaveras
esperas...
e aquietei-me vendo meus sonhos lá dentro, batendo asas pra lugar nenhum...

4 de janeiro de 2012

Todo dia...

É preciso ao poeta
fazer poesia
todo santo dia
porque todo dia é santo
e, todo poeta, um canto
de louvação ao sagrado que há no verso
ao reverso da nossa dor...
Verso é o nome do amor,
estrela cadente
na rima dançante
da asa do anjo que a gente se torna
quando escreve com a pena da alma
leve, pousante na lua,
no brilho da rua,
no longe que há entre mim e o mar...
entre o sim e o riso...
entre a entrega e o perigo...
É preciso fazer poesia
todo santo dia...
Navegar nesse idílio inefável
que une o poeta ao universo inteiro
que une o meu laço
ao nó do eterno que há em todo ser que ama
que canta
e se encanta por estar rimando
a cadência do respirar
com o dom de ver
e enxergar...
com o cio de ser passível de amor
e assim amar...