30 de julho de 2011

Guia...







Tinha uma ponte
ao meu lado
que insistia em me atrair
Eu caminhava,
ela também
Me olhava...
Travessia lenta
entre mim
e o não...
entre o sim
e a perdição
Tinha uma ponte
apontando outro caminho
Rindo
Vindo
em direção avessa...
“Obedeça... obedeça...”
E eu não...
Meu chão ao lado
Meus pés pregados
Linha reta
Sem cessar...
Tinha uma ponte todo o tempo
Em toda minha jornada
Acenava
Seduzia
Encantava
Eu não ia
Cobiçava
Tinha uma ponte
“Atravessa
Não tropeça
Travessa...”
Avante eu ia...
Ela ao lado
Ponte infinda
Mar sem água
Vida inteira
eu passava
porque ela
me levava
e eu nem sabia...
Não era ela a margem
À margem
Eu que ia....

10 de julho de 2011

Íntimo ritmo...


Fusão
Profusão
De fora
Pra dentro
O todo
Intenso
Fusão
Em cada ponto
Tudo é canto
Pra o encontro
Fuso e pleno banquete...
Encanto
Fome e sede
Saciados são
Beber a fome
Saciando o pão
Molhando
Inteiros
O que percorre
Cada veio
Cada fresta
Dança una
Fusão...
Viagem
Sem bagagem
Plumagem
De pele e aroma
Deslizando
desejos
Acesos
Coesos
Tesos
Presos
Espontaneamente
Fusão...
Guiados
Loucamente
Estrada sem fim
Meu tom em ti
Seu som em mim...
Ínfimo fio
Nós
Em cio...

9 de julho de 2011

O que nos move


Dentro de tudo há um universo
Cometas desfilam atraentes perigos
Os olhos olham tentados
atentos ao que há de ser
Não sair da rota
nem desejar o abismo
Passos e não asas nos são dados
No céu, promessas hão de sempre estar
Na terra é que os pés hão de pisar
Limites impostos...
Se não existem asas
existem escadas
assinalando alçares possíveis
e manobras inalcançáveis
A delícia constante
de fazer o desejo
ser sempre buscado
por outros caminhos

4 de julho de 2011

O nada...


Ela se incomodou, um dia, com o acúmulo de coisas que lhe cansavam... Resolveu limpar: desencostou os móveis, tirou as teias que se juntavam, eliminou as traças, desfez o mofo que umedecia as memórias, tornando-as sempre frescas... Pegou de um pano e foi apagando pó, retirando manchas, nódoas quase imperceptíveis, mas ela e só ela sabia que estavam lá...
Fez esse procedimento dentro de si em tudo, todo canto, cada fresta... impecável depósito onde nada ficou, nada restou, nada deixava sinais de vida... Ela seguia em sua limpeza, desinfetando o universo no qual sentia-se sufocada, atormentada, espalhando em toda parte o apagar de vestígios...
Ao fim do seu serviço, olhou em torno, buscou o conforto de observar a leveza que restara... e nada mais conseguia ver em lugar algum... nenhum parco sinal de memórias que a fizeram ser alguém um dia... Retiradas todas as marcas, ela apagou-se de existir: o peso saiu, o sufocamento extinguiu-se, a tormenta esvaziou-se e dentro do nada que sobrou, na vastidão de tanto espaço, ela se perdeu pra sempre e nunca mais se achou...

Mais


Além do passo
caminha o desejo:
gigante içador
das utopias silentes
Atento ao pódio
instigante
dos mais secretos ideais
Um passo a mais
desejo atroz
que move e eleva
além do passo
o desejo leva
empurra
avante
não permite
o esmorecer

3 de julho de 2011

Quixotesca espera...


Crença no que sempre há de ser
ainda que seja fruto de um desejo inconcebível...
Concebe-o o êxtase do alcance
A ínfima chance
já é o todo inteiro
pois é a gênese do milagre
E fundem-se, em óvulo,
a esperança e o medo do desfazer-se...
permeando a vida inteira
todo sonho que nasce
a partir do que outros não creem
E guarda-se em sigilo absoluto
o ver e o ser
o viver para conquistar
o que alguém apostou que jamais fosse...
Roda viciosa
na amarga-doce espera
de comemorar a perseverança
e não ter de dar nunca
o braço a torcer...