E viu que tinha uma ruga no canto do olho... teimosa ruga, vinda de onde, enfim?
Olhou mais perto: era mesmo ruga, mas... assim, de perto, eram muitas, muitas... indignou-se: de onde saíra aquilo??? Como pôde não ter visto, sempre vira tudo!!!
E mais perto mexeu a boca, como se num largo sorriso e elas se aprofundaram, olhando pra ela, como se dissessem: cá estamos, todas, todas nós. Na curva de seu sorriso, no canto dos olhos, ao longo da testa... e quanto mais alargava a boca, mais surgiam... e ela as via todas, risonhas e bailantes... Riu-se com gosto diante daquilo, e elas, as rugas, riam juntas... felizes e comemorativas... foi-se lembrando de momentos em que nem pensava que um dia as teria, e ria, e ria.. e elas riam junto com ela...
Parou séria ao espelho... elas sumiam com leveza, mas deixavam sinais de sua presença... achou-se bela com elas... e riu.. e as recebeu de volta... Lembrou-se das alegrias e riu... com as amigas pés-de-galinha...
De repente, percebeu a idade avançando... assombrou-se, assustou-se, pensou em suas amarguras e desilusões... chorou, os olhos fecharam-se, as lágrimas rolaram e as rugas não podiam assim, no choro, ser vistas...
Elas sinalizavam que tinha sido tão feliz.. que tinha vivido coisas belas... por isso riam-se com ela... e sumiam por trás daquela torrente lacrimosa, que só lhe punha angústia no peito... Rugas amigas... rir e rugas...Que bom tê-las, que bom vivê-las!
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