11 de outubro de 2010

Voyeur


Nunca fui admiradora dos insetos. Afora joaninhas, que me comovem, sempre os achei asquerosos primatas. Mas ontem, o inusitado me fez refletir. Eu tomava sol, junto à piscina, quando aquele casal de besouros pousou ao meu lado: faziam amor... Minha solidão ao sol espantou-se. Besouros fazem amor. Unidos, silenciosos.
            Senti-me invadindo aquele momento tão deles. Mas não tirei os olhos daquela cena. Besouros asquerosos têm par. Besouros amam. Besouros não estão sós. Eu estou.
Eu era naquele instante menor que besouros asquerosos. Olhava pra eles com inveja: eu cobicei ser amada, no silêncio, na liberdade, na cumplicidade.
            Não sei quanto tempo durou meu voyerismo. Insetos têm par. Depois dos besouros, vi outros casais, ali, emaranhados na grama, um sobre o outro, unos...
Insetos têm par... eu me repetia isso! Eu queria ser um inseto asqueroso, mas amado...
Delicadeza do momento, doçura e tristeza. Insetos amam...
            Se eu fosse um inseto, não queria ser barata. E se me dessem uma chinelada enquanto eu fizesse amor, no barato???
            Queria ser uma joaninha, fazendo amor no gramado. E que tivesse um arco-íris no meu céu nesse instante.

5 comentários:

  1. Bom isso, Sil... Barata... Chinelada na hora de fazer amor... :)
    Tirando a doloridíssima solidão, sobram o sorriso e a leveza do texto; deixando tudo como está, fica o texto poético.
    Abraço grande.

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  2. Ai, que lindo! um comentário seu, assim, interpretando do jeitinho que saiu da minha alma: solitário e engraçado, feito rir das nossas próprias pequenas tragédias.Tenho mesmo uma solidão tão minha que me rio dela, e de mim... poetando assim...Obrigada pela vinda!!!!

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  3. Muito bom, amiga! Essência e conteúdo! Um grande abraço!

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  4. Gente eu AMEI este texto ! Você é genial ! Beijos !! (Mariana Areias)

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  5. Silvana, bella.
    E quem te disse que não somos insetos? Kafka já nos alertou em A Metamorfose.
    Sei de algumas joaninhas que são belas joaninhas, mas por alguma razão não se veem joaninhas, pensam-se baratas às chineladas. Que barato que nada!
    Nossas metamorfoses e nossa altivez egóica nos faz pensar que não somos insetos, e somos (kafkianamente falando), mas com os mesmos encantos que você viu.
    Será que o besouro que eu fotografei em Pirenópolis voou exausto de Anápolis até lá? Há chances, há chances.
    Beijo vermelho e preto.

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

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