20 de outubro de 2010

Circo


Feito palhaço
de público inerte
eu faço graça
na praça
diante de um monte de traças
que corroem o riso fraco...
Tento chamar a atenção
na contramão,
com girassóis
cheios de anzóis
a destruir a ilusão...
Fisgadas duras,
alfinetes prendendo flores murchas
na minha lapela desgastada....
Feito um bobo da corte
corto a estratégia em pedaços,
jogo laços,
espalho meus braços
pesados
sobre o tapete vermelho
que jogo
pra dar glamour ao triste espetáculo
de malabarismos loucos,
jogando a vida entre o ar
e o espaço das mãos sedentas...
Figura triste
entre o ridículo e o desespero,
trocando sonhos por pesadelos,
acreditando
no aplauso que não triunfará...
No picadeiro
reino sozinha
numa comédia
de trágicos costumes...

2 comentários:

  1. Vida e circo. Representações necessárias, aplauso e reconhecimento esperados, nem sempre vêm. Vida, vida, vida.
    Esta imagem é triste, como me parecem tristes todos os circos e palhaços e animais acorrentados ou enjaulados e também me parece triste os espectadores.
    Na infância, a única coisa que eu gostava mesmo no circo era o globo da morte, talvez porque eu visse ali alguma verdade, talvez porque eu já a conhecesse desde tão cedo. A morte estava escondida por detrás de toda a vida do circo, por detrás de toda vida dos espectadores, por detrás da vida já surrupiada dos animais-objetos de gente abjeta, por detrás de mim.
    Belas metáforas, Silvana.
    Beijo grande,

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

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