Dá-me uma arma nova
que deslize na minha própria garganta
sangrando os venenos dos sonhos
destilando os algozes instantes
em que cremos no que não será...
Insistir na caminhada ausente
com passos vagos
morrendo dia após dia
por querer o que não há
Dá-me uma arma potente
que possa atingir o peito do ausente
fisgar a essência do descrente
virando do avesso a crueldade
extirpando a maldita vontade
de buscar quem tem asas constantes...
Dá-me uma arma imensa
que me defenda de mim e do alvo
apontando a saída do labirinto
fumaça densa que cega e destrói
que constitua a lei do meu ninho
e me proteja desse passarinho
chamado desejo que a mim me corrói...
Dá-me uma arma insana
capaz de vencer sem ser vista ou desfeita
que me apague a memória das chagas
que foram causadas por gestos infames
em meio a pedidos clementes de amor...
Dá-me uma arma de força
que mire a mentira e afaste a ausência
vestida de mim e de minha inocência
despida de tudo que não modifique
o espírito inconstante de quem me seduz...
Arma de luz
com ganchos afiados nas pontas incandescentes
que queimem e rasguem os veios errôneos
que insistes em ter por teus mapas traçados
campos de cinzas do que nem se fez
e desfaz em abortos o que seriam anjos...